Marcada por pontas soltas e semelhante a um quebra-cabeças faltando as principais peças, a investigação envolvendo a morte de mais uma brasileira na Europa avança a passos lentos, deixando um rastro de dúvidas e sofrimento. Natalia Martineli Suzuki, 31 anos, foi encontrada sem vida, com um lençol em volta do pescoço, dentro de sua casa, na Bélgica, em 24 de outubro do ano passado.
Especialista na área de Tecnologia da Informação (TI) e recém promovida a um cargo de chefia em uma multinacional, Natália estava radiante pouco antes de sua morte. Ela era casada, há três anos, com um francês, com quem mantinha um relacionamento descrito como abusivo por amigos e familiares. A promoção havia gerado conflitos com o companheiro, que não queria deixar o pequeno município belga de Messancy e se mudar para a capital, Bruxelas.
No dia de sua morte, Natália demonstrou entusiasmo com a promoção e trocou mensagens positivas sobre o futuro com amigos e familiares. Horas depois, foi encontrada sem vida pelo marido. Exames preliminares não detectaram drogas, álcool ou medicamentos no sangue da brasileira. Nada que remetesse a um possível suicídio. O marido tentou realizar a cremação na Bélgica logo no dia seguinte à morte e ainda pediu 20 mil euros aos pais dela, que recusaram.
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Seguro de vida
Pouco depois da tragédia envolvendo o suposto suicídio da companheira, o francês perguntou à família de Natália sobre um seguro de vida no valor de 50 mil euros, pouco mais de R$ 300 mil. O perfil controlador e abusivo do francês levantou suspeitas sobre o que teria ocorrido no imóvel.
Natália fazia terapia, mas só durante horários em que o marido estava presente e podia ouvir, o que foi considerado estranho pela família, já que havia outras opções de horários. O comportamento do marido no velório levantou ainda mais suspeitas, pois ele parecia indiferente e chegou a rir durante seu discurso de despedida. Uma foto enviada aos pais de Natália revelou que o nariz da brasileira estava desfigurado, sugerindo possível violência.
Em 3 de novembro do ano passado, um parente da Natália conseguiu ir presencialmente à delegacia, na Bélgica, para questionar a investigação. Naquele momento, a família descobriu que nunca havia sido realizada uma autopsia, algo que o marido havia falado que tinha sido feito. Após muitos questionamentos, parentes conseguiram solicitar a confecção de um laudo cadavérico.
Duas certidões
Além de todas as suspeitas que cercam a morte da brasileira em território belga, as autoridades locais, de forma confusa, emitiram duas certidões de óbito sobre a morte de Natália. A primeira atesta a causa como “não informada”. Já o outro documento aponta a causa como “morte natural”.
À família da brasileira, o marido afirmou, com muita firmeza, de que Natália havia cometido suicídio, mesmo afirmando que a companheira não demonstrava nenhum sinal de depressão e não tendo deixado cartas ou bilhetes. Lenta, a investigação não periciou o celular e o notebook da brasileira. Segundo a família, o lençol encontrado ao redor do pescoço de Natália sequer foi apreendido e segue em poder do marido.
Os policiais também não haviam checado os horários e circuitos de câmeras de segurança nas redondezas da casas para comprovar que Natalia estivesse realmente sozinha no momento da morte. A brasiliera trabalhou em casa (home office) normalmente no dia de sua morte, fez contato com família e amigos horas antes, feliz e fazendo planos para o dia seguinte e até para a mesma noite.
Joelhos machucados
De acordo com familiares de Natália, quando o marido da brasileira descobriu que o corpo dela passaria por autópsia, ele avisou aos parentes que se o exame apontasse machucados nos joelhos e nos pés, seria porque a Natália era “desastrada” e “tropeçava nos móveis em casa”.
De acordo com a mãe da brasileira, Priscila Martinelli, a filha sempre foi uma mulher muito batalhadora. “Sempre foi sorridente e fazia tudo por quem amava, amigos e familiares, incluindo seus dois pets, Bob e Tony, dois vira-latas que Natália decidiu adotar já na Bélgica”, lembrou-se.
Priscila relatou que a filha tinha muitos sonhos e seria impensável ela tirar a própria vida. “A realização do sonho de trabalhar na Europa da minha filha, tornou-se um pesadelo e uma dor imensa para mim, quando a recebo de volta sem vida e com uma certidão de óbito sem causa da morte informada. Eu e minha filha fomos privadas de nossos direitos e literalmente abandonadas”, desabafou.