A malária continua sendo uma das doenças infecciosas de maior impacto no mundo. Com o objetivo de conter a transmissão, cientistas estudam uma estratégia inédita que envolve o uso de medicamentos aplicados diretamente nos mosquitos transmissores da doença.
A proposta surge como alternativa aos mosquiteiros impregnados com inseticidas, método de prevenção usado há décadas. Com o avanço da resistência dos mosquitos aos produtos químicos, pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard T.H. Chan passaram a focar no verdadeiro responsável pela infecção, o parasita Plasmodium falciparum, que se aloja no interior do inseto.
“O verdadeiro assassino é o parasita que é transmitido por esses mosquitos. Ao matá-lo, eliminamos a fonte da malária”, explicou a professora Flaminia Catteruccia, coautora do estudo publicado na revista Nature na última quarta-feira (21/5).
O que é a malária?
- A malária é uma doença infecciosa causada por parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos ao ser humano pela picada de fêmeas infectadas do mosquito Anopheles, conhecido como mosquito-prego.
- Os sintomas incluem febre, fraqueza intensa, confusão mental, convulsões, dificuldade para respirar, queda de pressão, sangramentos e, nos casos mais graves, a doença pode causar a morte.
- No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a maior parte dos casos ocorre na região amazônica, que abrange estados como Amazonas, Pará, Acre, Rondônia e Roraima.
- O tratamento da doença é simples, eficaz e gratuito. No entanto, o diagnóstico e o início rápido do tratamento são essenciais para evitar complicações graves.
Tratamento dos mosquitos
A equipe testou 81 compostos antiparasitários e identificou 22 capazes de eliminar o parasita nos estágios iniciais, ainda no intestino do inseto.
Os compostos seriam aplicados em redes mosquiteiras, onde atuariam quando o mosquito pousasse sobre elas. Diferente dos inseticidas, que matam o inseto, os medicamentos eliminam apenas o parasita que ele carrega, impedindo, assim, a transmissão da malária ao ser humano.
Entre os compostos mais promissores estão duas quinolonas semelhantes à endoquina (ELQs), que agem na mitocôndria do parasita e são eficazes inclusive contra mosquitos já resistentes a inseticidas.
Segundo os autores, os materiais tratados com esses compostos bloquearam completamente a infecção durante mais de um ano de testes laboratoriais.
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Além disso, os medicamentos são baratos de produzir e podem ser incorporados em mosquiteiros que custariam entre 1 e 2 dólares por unidade, o equivalente a cerca de R$ 5,20 a R$ 10,40. Os pesquisadores evitam, no entanto, utilizar substâncias já aprovadas para uso humano, a fim de não incentivar o surgimento de cepas resistentes aos tratamentos disponíveis.
Doença ainda representa risco global
A malária permanece como a quarta maior causa de morte em países de baixa renda. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de casos voltou a subir nos últimos anos, mesmo com a redução das mortes.
O aquecimento global e as inundações favorecem a proliferação dos mosquitos e ampliam as regiões de risco, tornando a prevenção ainda mais desafiadora.
Com a eficácia comprovada em laboratório, o próximo passo será viabilizar testes em campo e escalar a produção dos mosquiteiros medicados. Para os autores do estudo, a estratégia representa uma nova frente de combate à malária, atuando diretamente na biologia do parasita e não apenas nos hábitos do mosquito.
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