DF tem déficit de 227 escolas de tempo integral para cumprir meta

Para cumprir o Plano Nacional de Educação (PNE) em 2024, o Distrito Federal deveria implantar educação em tempo integral em mais 227 escolas públicas, acolhendo 93 mil alunos no ensino em dois turnos. Segundo a meta 6 do PNE, até 2024, 50% das escolas públicas de cada unidade da federação deveriam oferecer educação em tempo integral para atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica.

Para cumprir a meta, o DF deveria ter 411 de suas 822 escolas da rede pública oferecendo o ensino em tempo integral (hoje são apenas 184, o que corresponde a 22%).

O número de alunos sob esse regime de ensino precisaria ser de 119 mil (atualmente, 26 mil ficam o dia todo na escola, ou 5,4% dos 475 mil matriculados).

 


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“O ensino integral seria uma boa opção para as famílias carentes que trabalham e precisam deixar os filhos na escola. É mais seguro do que deixá-las em casa sozinhas, o que acontece muito”, disse Tamires Pinheiro da Cruz, 34 anos, que sonha em ver os filhos Anny, 14, Willaiany, 12, e Willian, 16, no tempo integral.

“Muitas mães deixam seus filhos sós em casas para poder trabalhar, porque não têm tempo para cuidar nem condição para pagar ninguém para olhá-los. O integral seria uma boa opção para todo DF”, acrescentou a mulher, que mora na Estrutural, região carente do DF.

Longe do celular

Willaiany vê pontos negativos e positivos nas escolas em tempo integral. Por um lado, ela não esconde a preguiça em precisar acordar cedo e passar o dia todo na escola, voltando só no fim da tarde para casa. Por outro, a menina acredita que o ensino em dois turnos seria melhor para os estudos e a afastaria do celular.

“Eu fico muito tempo no celular. Se a bateria durar eu fico o dia todo”, disse a criança. “Quero tirar notas melhores em História”, contou. Para o futuro, a jovem nutre o sonho de combater o crime e defender a Lei. “Quero ser policial civil.”

Veja:

 

Mais condições

A dona de casa Ana Rita Santos Barbosa Cosmo, 35, também gostaria em ver os filhos Davi, 11, e Daniel, 4, matriculados em escolas de dois turnos. “Os professores teriam mais condições de ajudar as crianças com as tarefas. Dentro de casa a gente encontra uma certa dificuldade porque a matéria que aprendemos no passado é totalmente diferente da que eles estão apreendendo hoje. Eu mesma luto muito”, argumentou.

Com boas notas em todas as disciplinas, Davi gosta de ir para a escola, e adoraria estudar em um colégio de tempo integral. “Porque gosto de apreender, estudar, conversar e brincar de pique-pega”, declarou o estudante, que é fã de matemática. O pequeno nutre dois sonhos: “Ser piloto de corrida ou projetista de carros”.

Luciene Santos, 44, auxiliar de serviços gerais, conseguiu matricular o filho João Pedro Oliveira Rodrigues, 12, em uma escola de tempo integral da rede pública. “A escola é muito boa, ótima. Deveria ter mais. Porque as mães de família precisam trabalhar e deixar os seus filhos em uma instituição com segurança. Para que saibam que eles estão bem, para elas conseguirem o pão de cada dia”, assinalou.

Para o especialista em educação Afonso Galvão, professor e membro do Instituto Expert Brasil, as mães seriam tão beneficiadas quanto os estudantes. “Existe a dimensão social. Evidentemente, uma criança passando mais tempo na escola libera tempo para os pais poderem trabalhar, especialmente as mães”, afirmou.

Ele acrescenta que, em médio e longo prazos, a escola integral tende a impactar positivamente a economia do país. “Esses estudantes estarão mais preparados para conseguir melhores posições de trabalho, entrar na universidade e se qualificar profissionalmente. Cada ano de estudo tem um impacto positivo no PIB”, reforçou.

Ele ressalta, ainda, que a escola é um fator de proteção vinculado ao Estado. “A escola fica à disposição do aluno durante o dia inteiro. Quanto mais tempo o estudante passa na escola, mais protegido ele está, especialmente aqueles em situação de risco”, explicou.

Atraso nacional

O distanciamento das metas do PNE não é uma falha apenas de Brasília. O atraso é nacional, tanto que o governo federal lançou o Programa Escola em Tempo Integral. O investimento será de R$ 4 bilhões entre municípios, estados e o DF.

A proposta do Palácio do Planalto é matricular 3,2 milhões de novos estudantes em colégios de dois turnos em todo o Brasil. Desse total, 1 milhão estão previstos para ainda em 2023.

“De certa forma, é uma vergonha que o Brasil não esteja ainda com a sua educação integral da educação básica universalizada. Isso deveria ser um objeto do nosso país”, disse o especialista em educação Afonso Galvão, professor e membro do Instituto Expert Brasil.

Segundo a Secretaria de Educação do DF, a ampliação da educação integral está nos planos da pasta. Por isso, o DF pretende aderir ao programa do governo federal.

Além da adesão, a secretaria afirma que trabalha para a construção de novas unidades escolares, ampliação de unidades já existentes através de novos módulos escolares, contratações de professores entre outras ações. Contudo, a pasta não apresentou um cronograma de ampliação e quais seriam as metas estabelecidas para a ampliação do modelo integral.

Esqueça 2024

Na avaliação de Galvão, não há mais condições reais para o DF e o Brasil conseguirem cumprir a meta do PNE em 2024. Além de recursos, é necessário mais espaço físico para escolas. “Essa meta não será atingida. Essa meta foi estabelecida entre 2015 e 2016, mas no meio desse caminho tivemos a pandemia de Covid-19 e o governo Bolsonaro, que foi o pior governo em termos de Educação.”

“O que se espera, com pé no chão, para o DF, com base nesses novos incentivos federais, é que a autoridade educacional local elabore o mais rápido possível um plano de expansão da educação em tempo integral”, comentou.

Com planejamento, para Galvão, o DF terá condições de atingir parcialmente as metas do PNE dentro de dois anos. “A dívida que temos com a Educação Básica no Brasil é histórica, enorme e urgente”, ressaltou.

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