Presidente de uma das organizações envolvidas na fraude do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o pecuarista Carlos Roberto Ferreira Lopes (foto em destaque) também é dono do quiosque Jaquar, uma loja na entrada do Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino Kubistchek.
Carlos Roberto é presidente da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer). O quiosque dele, que vende artesanatos indígenas, foi inaugurado em 2023 e tem capital social informado de R$ 100 mil. O estabelecimento se define como “a maior curadoria de arte indígena brasileira”.
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Conafer lida com aposentadorias de indígenas e de trabalhadores rurais
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Carlos Lopes é presidente de confederação que teria recebido R$ 688 milhões por meio de descontos indevidos de aposentados
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Loja de artigos indígenas no aeroporto pertence a pecuarista envolvido em esquema na fraude do INSS
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A fraude investigada no INSS se trata de um esquema bilionário que descontava valores indevidos dos pagamentos de aposentados. As apurações da Controladoria-Geral da União (CGU), divulgadas nesta semana, estimam que a Conafer tenha arrecadado cerca de R$ 688 milhões das remunerações de trabalhadores rurais e indígenas inativos desde 2019.
Carlos Lopes é mineiro, mas há casas registradas em nome dele no Distrito Federal e em São Paulo. Na capital do país, constam dois endereços do pecuarista no Recanto das Emas e dois no Jardim Botânico. Na capital paulista, ele tem um apartamento no bairro de Moema.
À frente da Conafer, o empresário foi à África para levar os trabalhos da ONG. Uma publicação de fevereiro de 2024 no site da organização comemora os primeiros 53 agrofamiliares filiados, em Ruanda, no Congo, no Burundi, no sul do Sudão, em Uganda e na Tanzânia.
Além de ter esses negócios, Carlos Roberto é dono de uma empresa de reprodução bovina, a Concepto Vet.
Os mandados foram cumpridos por cerca 700 policiais e 80 servidores da CGU no Distrito Federal e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe.
Ao todo, as organizações arrecadaram R$ 6,3 bilhões com mensalidades indevidamente cobradas de aposentados.
Desde maio de 2024, o INSS suspendeu novas filiações e autorizou a liberação delas só após procedimentos de reconhecimento facial e da apresentação de documentos de identificação do aposentado.
A Conafer divulga, no site da confederação, o Programa +Previdência Brasil, que, segundo a página, visa divulgar informações sobre a educação previdenciária e o INSS Digital. As iniciativas incluem cursos sobre benefícios, de modo a auxiliar os interessados a reivindicarem os próprios direitos.
O site também detalha que não há custo nesse processo. “As associadas não receberão remuneração advinda do INSS nem dos usuários pela execução do serviço, não sendo impedidas de cobrar a mensalidade associativa do beneficiário do serviço”, diz o portal.
A investigação da CGU demonstrou, porém, que a situação não era como a Conafer fazia parecer. Os auditores ouviram 56 pessoas, em 16 unidades da Federação, que tiveram descontos feitos pela confederação. Nenhuma das vítimas havia autorizado o repasse.
A controladoria acrescentou que 621.094 aposentados tiveram desconto nos pagamentos ligados à Conafer só no primeiro trimestre de 2024.
O Metrópoles tentou contato com a Jaguar e o empresário Carlos Lopes, mas não teve retorno até a mais recente atualização desta reportagem.
A equipe do site também esteve na loja de artesanatos no Aeroporto de Brasília, mas encontrou o estabelecimento fechado. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.
Em nota, a Conafer informou que acompanha o desdobramento do inquérito e confia no sistema judiciário. “A receia do INSS representa apenas 11% do total da entidade”, completou o texto.