Em março deste ano, Alice Torres, de 8 anos, deu um grande susto na família ao ser internada por não conseguir andar direito. A criança, que mora em Maceió (AL), queixava-se de dores excessivas nas pernas e caminhava com dificuldade.
“Fiquei desesperada. Imagina ver a sua filha – uma criança que sempre foi ativa e alegre – sem conseguir andar”, lembra a enfermeira Andreya Laranjeiras, mãe de Alice.
A menina foi diagnosticada com miosite, um quadro grave de inflamação muscular. Cinco meses depois, a causa do problema ainda é um mistério para a família.
Um mês antes da internação, Alice teve alguns episódios de febre, náuseas e vômito, o que a família atribuiu a uma virose. Em 2022, ela tinha sofreu duas infecções: uma de chikungunya e outra de Covid-19.
“Desde fevereiro, sempre que ela praticava atividades físicas, voltava para casa andando com dificuldade e com dores nas pernas. Na minha cabeça, esses sintomas eram sequelas da chikungunya. Pedia que ela aprendesse a conviver”, conta Andreya.
Os sintomas evoluíram até Alice não conseguir mais caminhar. Os pais observaram que as pernas da menina estavam inchadas e com pintinhas roxas. Os exames mostraram que ela estava com miosite.
“A inflamação pode levar a lesões no coração e nos rins, que também são músculos. Os médicos diziam que minha filha estar viva era um milagre”, lembra Andreya, emocionada.
Miosite
A miosite pode ser provocada por diferentes causas, incluindo um trauma (choque ou pancada no local) ou exercícios físicos realizados de forma incorreta. O quadro também pode surgir em razão de doenças autoimunes ou metabólicas, bem como infecções virais ou bacterianas.
Os sintomas incluem dor constante na musculatura e nas articulações, fraqueza muscular progressiva e cansaço. Também podem ocorrer perda de peso, febre e dificuldade para respirar ou engolir.
“A miosite faz parte de um grupo mais amplo de doenças, as miopatias. Várias condições podem levar a doenças na musculatura”, explica a reumatologista Lícia Mota, médica do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e diretora científica da Sociedade de Reumatologia de Brasília.
A miosite pode acometer os braços, os ombros, coxas e a musculatura do tronco. A doença impõe dificuldade para a realização de tarefas simples como pentear os cabelos, levantar de uma cadeira ou se alimentar.
Nos casos mais graves, os órgãos internos que também são formados por músculos, como o coração, o pulmão e o estômago, são afetados, levando a riscos de vida.
A grande quantidade de causas possíveis e os sintomas inespecíficos, com diferentes velocidades de progressão, são dois fatores que dificultam o diagnóstico e o tratamento.
“A fraqueza é o principal sintoma para a maior parte das doenças musculares. Ela pode aparecer subitamente e com intensidade, chamando atenção do paciente e do médico, ou de forma progressiva, estabelecendo-se de forma insidiosa, levando o próprio paciente a demorar a perceber que alguma coisa errada está acontecendo”, afirma a médica.
Alice Torres 02
Alice precisou ser internada duas vezes este ano por dificuldades para andar Imagem cedida ao Metrópoles
Andreya Laranjera e Alice Torres
Andreya Laranjeira e Alice Imagem cedida ao Metrópoles
Alice e a irmã
Alice e a irmã no hospital Imagem cedida ao Metrópoles
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Avaliação e tratamento
A médica destaca a importância de o paciente ser avaliado por um especialista com experiência nesse tipo de condição. “O diagnóstico depende de alto nível de suspeição. São necessários detalhes sobre a história clínica da pessoa e a realização de um exame físico bastante completo para direcionar a investigação”, afirma Lícia.
De acordo com ela, quando o diagnóstico é correto e o tratamento iniciado logo, o paciente tem grandes chances de retornar à vida normal. No entanto, quando isso não ocorre, a perda de força muscular pode ser irreversível.
No caso de Alice, a causa da doença ainda não foi descoberta. “A cada consulta, os médicos passam uma bateria de exames. Ninguém sabe se foi por causa da virose, da chikungunya ou de uma doença autoimune. Ficamos apreensivos porque sem isso, não tem como fazer um tratamento”, conta Andreya.
Alice recebeu alta do hospital cinco dias depois de ser internada, após receber soro para hidratação durante todos os dias e medicações para dor e náusea quando era necessário. Oito dias depois, ela passou por uma nova internação, com os mesmos sintomas.
Desde então, a menina foi orientada a evitar brincadeiras que possam levar à fadiga dos músculos. Em casa, a família foca em uma alimentação natural e rica em proteínas. “Ela é uma criança de 8 anos, com energia de sobra. É difícil impedi-la de correr, pular e brincar”, lamenta a mãe.
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