Kamila Costa Quadra, de 35 anos, morreu após complicações decorrentes de um procedimento dentário realizado em uma clínica de Serra, no Espírito Santo. Ela passou por uma raspagem gengival em 5 de fevereiro para aumento da coroa dentária após quebrar um dente, mas, dias depois, começou a sentir dores intensas e inchaço no rosto.
Mesmo buscando atendimento, o quadro se agravou. Com o avanço da infecção, Kamila precisou passar por uma nova cirurgia na boca, mas não apresentou melhora e a infecção continuou a se espalhar pelo corpo, atingindo o sistema respiratório.
Como resultado, a mulher desenvolveu uma pneumonia severa e teve 75% do pulmão comprometido, precisando ser intubada. Na última sexta-feira (7/3), após mais de um mês de complicações, ela sofreu um um choque séptico e uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.
O que pode ter acontecido?
O dentista Flávio Pinheiro, que atua no Rio de Janeiro, explica que o procedimento realizado em Kamila é considerado simples e comum nos consultórios odontológicos. No entanto, ele alerta que qualquer cirurgia na boca exige cuidados para evitar infecções.
“O procedimento que ela fez após quebrar o dente é uma intervenção normal. O ponto fundamental é que qualquer cirurgia na boca exige o uso de antibiótico profilático antes de ser realizado para evitar infecções”, afirma.
Segundo Pinheiro, a depender da cirurgia, o uso do antibiótico deve continuar nos dias seguintes ao procedimento. O especialista destaca que um dos erros mais graves pode ter ocorrido no atendimento médico inicial.
“O que pode ter complicado foi que ela procurou a UPA e só recebeu analgésico para dor. A paciente só foi internada quando estava mais grave. Tentaram fazer de tudo, mas a imunidade dela provavelmente já estava comprometida, e a infecção acabou se espalhando”, considera Pinheiro.
A odontopediatra Ilana Marques, da IGM Odontologia para Família, de Brasília, explica que uma infecção dentária não tratada pode se espalhar pela corrente sanguínea ou nos tecidos adjacentes, causando condições graves como:
- Celulite facial: infecção dos tecidos moles da face;
- Abscesso cerebral: quando bactérias alcançam o cérebro;
- Endocardite bacteriana: infecção nas válvulas do coração;
- Sepse: infecção generalizada, com risco de morte. “Isso ocorre quando as bactérias da boca entram na circulação sanguínea, especialmente em pessoas com imunidade baixa ou condições preexistentes”, explica Ilana.
Segundo Ilana, os pacientes devem ficar atentos a alguns sinais de infecção após um procedimento odontológico, como:
- Dor intensa ou crescente, mesmo após a medicação;
- Inchaço persistente ou que aumenta com o tempo;
- Vermelhidão ou calor na área tratada;
- Secreção de pus (sabor amargo ou gosto ruim na boca);
- Febre acima de 38°C;
- Dificuldade para engolir, respirar ou abrir a boca.
Infecção generalizada
A causa da morte de Kamila foi registrada como choque séptico, também conhecido como sepse, resultado da infecção generalizada. O quadro ocorre quando há problemas em vários órgãos e sistemas do corpo, quando a infecção inicial contamina todo o organismo, levando o indivíduo a um colapso.
Embora as causas mais comuns da sepse sejam as infecções bacterianas, como na pneumonia e na infecção urinária, qualquer outro agente infeccioso pode causar a condição.
“Uma infecção dentária não tratada pode afetar outras partes do corpo e até mesmo áreas críticas, como coração, pulmão ou mesmo causar uma infecção generalizada, levando a complicações gravíssimas com risco de morte”, afirma a dentista Anna Karolina Ximenes, da IGM Odontologia para Família.
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