Lei anticorrupção é aprovada pelas maiores empresas brasileiras, mas sistemas de integridade ainda são considerados imaturos

 

Resultado da primeira pesquisa sobre impactos da lei, que completa 10 anos nesta terça (1º), serão debatidos em evento promovido pela TI Brasil e pelo Insper

São Paulo — Pesquisa feita com 100 das 250 maiores empresas brasileiras revela que a aprovação da Lei Anticorrupção é quase unânime, chegando a 95% dos entrevistados. Os sistemas de integridade das empresas, no entanto, ainda são considerados imaturos pelos profissionais de compliance.

A chamada Lei Anticorrupção (Lei 12.846/2013), que completa dez anos nesta terça-feira (1º), estabeleceu instrumentos mais modernos de enfrentamento à corrupção, como os acordos de leniência, a responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas (sem necessidade de comprovação de culpa ou dolo) e a tipificação mais clara do suborno de funcionários públicos estrangeiros, além de incentivar a adoção de sistemas de compliance nas empresas.

Pesquisa da TI Brasil/Quaest, a primeira a medir os impactos da lei, mostra que as empresas acreditam fortemente que a lei contribui para disseminar sistemas de integridade no mercado (99%) e para a expansão da cultura de compliance (98%), e ajuda a atrair investimento estrangeiro de qualidade (92%).

Apesar disso, a pesquisa mostra que 91% dos executivos entrevistados avaliam, hoje, que o sistema de integridade das empresas brasileiras ainda é imaturo – um dado significativo sobre o desafio que persiste para que estes sistemas recém implantados passem a efetivamente balizar comportamentos. Também consideram que, entre as pequenas e médias empresas, ainda há espaço para avançar. Para 57% dos entrevistados, ainda é pouco o impacto da lei para o fortalecimento do compliance neste segmento das PMEs.

Os profissionais também veem o enforcement da lei – isto é, a capacidade das autoridades de aplicar sanções pelo descumprimento – como fundamental para elevar padrões. Para 93% deles, as operações anticorrupção ajudaram nas transformações dos mecanismos e padrões de integridade das empresas. No entanto, a maioria dos entrevistados percebe que este enforcement estagnou (36%) ou diminuiu (36%) nos últimos cinco anos. Talvez esta percepção de menor risco de sanções já esteja começando a afetar o investimento das empresas em compliance, já que um em cada cinco entrevistados acredita que ele já diminuiu nos últimos 5 anos.

Há, também, preocupação dentro das empresas sobre a falta de autonomia, segurança e apoio para os profissionais de compliance conduzirem seu trabalho. Para 54% dos respondentes, só uma minoria das empresas brasileiras garante tais condições adequadas para os executivos de compliance cumprirem sua função.

“Além de equiparar o Brasil às legislações anticorrupção mais modernas no mundo, a Lei 12.846 produziu, em 10 anos, uma verdadeira revolução no setor privado brasileiro, com a disseminação de mecanismos e uma cultura de compliance antes inexistentes. Mas os próprios executivos reconhecem que os sistemas de integridade ainda são imaturos e sua efetividade depende, de um lado, de incentivos positivos, como o apoio da alta liderança nas empresas e, do outro, da capacidade de enforcement das autoridades”, analisa Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional – Brasil.

Há, ainda, grande preocupação sobre ameaças de retrocessos legislativos: 71% dos respondentes apontam que o potencial afrouxamento da Lei das Estatais é um risco alto para os sistemas de compliance dessas empresas.

A adesão do Brasil à OCDE é vista pela grande maioria (87%) como potencialmente positiva para a elevação dos padrões de compliance no mercado nacional – um dado relevante, já que o Brasil iniciou o processo de adesão ao bloco no ano passado e, neste ano, está sendo submetido à 4ª fase de revisão do cumprimento da Convenção da OCDE contra a Suborno Transnacional, de que é signatário desde o ano 2000.

A pesquisa “10 Anos de Lei Anticorrupção no Brasil: a percepção dos profissionais” ouviu executivos de compliance e a alta direção de 100 das 250 maiores empresas brasileiras segundo o ranking Valor 1000, entre os dias 12 e 28 de julho.
Veja a pesquisa completa aqui.

 

Impactos da lei são discutidos em evento

Os principais resultados da pesquisa serão discutidos durante seminário promovido, nesta segunda-feira (31), pela Transparência Internacional – Brasil e pelo Insper.

O evento terá a participação de Delia Ferreira, presidente global da Transparência Internacional, Daniëlle Goudriaan, presidente do Grupo Antissuborno da OCDE, dos governadores Romeu Zema (Minas Gerais) e Renato Casagrande (Espírito Santo), Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, e Ricardo Liáo, presidente do COAF, além de outras lideranças públicas e privadas.

O debate da TI Brasil e do Insper será realizado em São Paulo, entre 9h e 18h, com transmissão online pelo YouTube do Insper.

 

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